sábado, março 25, 2017

A FEBRE BOLSONARO

Política, Brasil: O deserto politico é tão devastador que o deputado Jair Bolsonaro, agora é estrela da internet e saudado como "mito" pelas multidões de jovens que reúne onde passa.
 Foto Reprodução: Internet
Thaís Oyama

M
ito, mito, mito!", gritam em coro cerca de 1 000 pessoas assim que o deputado Jair Bolsonaro desponta no saguão do aeroporto de Campina Grande, na Paraíba. Ele ergue os braços. As palmas aumentam: "Um, dois, três, quatro, cinco mil, queremos Bolsonaro presidente do Brasil!". Abraçado, apalpado, fotografado, beijado e empurrado, o capitão da reserva do Exército, já sem conseguir pôr os pés no chão, vai sendo arrastado pela multidão até o estacionamento do aeroporto. Lá, erguido e carregado nos ombros, termina em cima de um carro de som, microfone na mão. Camisetas visíveis na platéia indicam a presença de alguns grupos: Direita Paraíba, Direita Ceará, Ordem dos Conservadores, Academia de Krav Magá de Campina Grande. Jovens compõem a maioria do público. Muitos são estudantes universitários. Acenam para o visitante e levantam cartazes com os dizeres "Bolsonaro 2018". Alguns batem continência para o deputado-capitão.

Na Paraíba: o deputado imita o fuzil com as mãos, gesto copiado nas ruas e nas redes sociais pelos bolsonaristas

De pé no capô do carro, Jair Bolsonaro (PSC-RJ) lança seus gritos de guerra. Abre com refrões patrióticos: "Este é um brasileiro com o coração verde e amarelo. Se estou aqui é porque acredito no Brasil!". Ovações. Critica o Estatuto do Desarmamento: "Nós vamos devolver o fuzil para o produtor rural. Cartão de visita para o MST é cartucho 762!". Mais aplausos. A platéia reproduz o gesto do deputado, que imita um fuzil com as mãos. Bolsonaro prossegue elogiando os militares: "Acabou o discurso da esquerda querendo extinguir a PM. E é bom irem se acostumando com um capitão no Planalto". "Presidente! Presidente!", res- ponde a multidão. Encerra a fala com seu bordão: "Brasil acima de tudo! Deus acima de todos". Palmas, gritos, pedidos de selfie (ele atende a todos). Enquanto isso, assume o microfone Eduardo Bolsonaro, também deputado pelo PSC e o terceiro dos cinco filhos de Jair Bolsonaro (motivo pelo qual é chamado pelo pai de "Zero Três"). Aplausos efusivos para ele também.
Bolsonaro é ovacionado no aeroporto de Campo Grande - PB

Cenas como a do aeroporto se repetirão ao longo de todo o dia. Na caminhada que Bolsonaro faz pelo centro de Campina Grande e na porta das emissoras de rádio e TV em que dá entrevistas, dezenas de fãs o aguardam, celular em punho, prontos para as fotos. Numa praça, diante de uma passante que chama o deputado de fascista, bolsonaristas aglomerados em torno dela gritam: "Maconheira, maconheira!". Da mesma forma, o homem que levanta o punho para o grupo dizendo "Não passarão!" ouve de volta: "Comunista, comunista!". Assessores tentam controlar o assédio ao chefe, que chamam de "JB".

A popularidade de JB é um fenômeno novo até para ele. Em 2010, Jair Messias Bolsonaro era um mero peão do baixo clero na Câmara. O termo define os parlamentares esnobados pelos colegas mais famosos, esquecidos pela imprensa, excluídos das comissões mais importantes da Casa e com nenhum ou quase nenhum projeto aprovado - precisamente o caso de Bolsonaro. Em seu sétimo mandato como deputado federal, ele pôs sua assinatura em pelo menos 180 projetos, mas apenas três viraram lei. Recentemente, conseguiu aprovar sua primeira Emenda Constitucional - a que torna obrigatório o recibo impresso do voto digital (Bolsonaro nunca confiou em urnas eletrônicas). A única marca extraordinária que obteve ao longo de seus mandatos foi a de representações contra ele no Conselho de Ética da Câmara: quatro, um recorde no órgão. Bolsonaro, até há pouco tempo, era apenas um tipo folclórico no Congresso, um excelentíssimo zé-ninguém.


Jair Bolsonaro posa com o ex-vereador Santino em visita á João Pessoa - PB

As coisas começaram a mudar no fim de 2010. Naquele último ano do governo Lula, o Ministério da Educação propôs distribuir nas escolas públicas um conjunto de panfletos e DVDs destinado a combater a homo-fobia. Críticos apelidaram o material de "kit gay". Diziam que "estimulava o homossexualismo e a promiscuidade". Bolsonaro assumiu a frente do ataque. Com sua fala peculiar - quanto mais exaltado fica, mais pontua os discursos com impropérios de arquibancada de futebol -, afirmou no Congresso que os autores da ideia eram "mil vezes canalhas", deveriam deixar as crianças em paz e "queimar suas rosquinhas onde bem entendessem".

É o deputado quem situa o episódio como ponto de virada na sua carreira política. "A partir daí começou a juntar gente no aeroporto para me ver." Em poucos anos, ele se tornou um fenômeno da internet. Hoje tem 3,8 milhões de seguidores no Facebook. É um dos políticos mais populares na rede. No ano passado, um único post seu, acompanhado de um vídeo em que ataca o PT, teve 8,2 milhões de acessos e 963503 comentários e compartilhamentos. A título de comparação, o vídeo mais visto do ex-presidente Lula teve a metade desses acessos e 124060 compartilhamentos. Outras dezenas de gravações sobre o deputado, essas postadas por seus seguidores, trazem títulos como "Bolsonaro enfrenta sete comunistas e oprime cada um deles", "Bolsonaro esculacha defensores dos direitos humanos" ou "Os top 10 momentos do Mito" (Bolsonaro diz que o termo com que apoia-dores se referem a ele vem de um apelido seu de infância - por ser comprido e ter canelas brancas, diz, era chamado de "Palmito", ou "parmito", no sotaque do Vale do Ribeira). Algumas das gravações que circulam na rede mostram discursos, entrevistas e bate-bocas do deputado com colegas. De Jean Wyllys (PSOL-RJ), por exemplo, levou uma cusparada durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff na qual elogiou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante do DOI-Codi na época da ditadura e torturador catalogado. De Maria do Rosário (PT-RS), tomou um processo no STF pela frase "não te estupro porque você não merece". No ano passado, como saldo do seu rosário de provocações, tornou-se réu no Supremo por injúria e incitação ao crime.

O jeito Trump de ser de Jair Bolsonaro 

Na palestra que fez em João Pessoa no último dia 9, os 900 ingressos disponíveis esgotaram-se meia hora antes da sua chegada. Como em Campina Grande, os jovens dominaram a platéia. A eles, Bolsonaro apresentou seu discurso que mistura fantasias nostálgicas ("no meu tempo, o professor tinha autoridade, as pessoas podiam andar na rua sem ser assaltadas e a família era respeitada") com opiniões conservadoras banhadas no verniz populista: para toda questão complexa, o deputado tem na ponta da língua uma solução simplista. Situação carcerária? Ele resolve o problema com uma cacetada só: "A cadeia está cheia, mas pior que quem está lá dentro é quem está debaixo da terra. Direito do preso é não ter direito". Crise econômica? Fácil. "O Brasil é cheio de riquezas naturais! Basta explorá-las direito". As reservas de nióbio e o suposto olho grande dos chineses em cima delas é, ultimamente, um dos temas preferidos do deputado. Outro, perene, é a defesa da ditadura militar. "Não teve ditadura no regime militar. Ditadura teve só para quem era criminoso, sequestrador, assaltante de banco e terrorista." Exclui, convenientemente, quem apenas cometeu o crime de pensar diferente.

Ironicamente, foi uma acusação de terrorismo, em 1987, que catapultou à política o então jovem e desconhecido capitão do Exército Jair Bolsonaro. Em outubro daquele ano, VEJA publicou um relato feito por ele em que confirmava a preparação de um plano batizado de "Beco sem Saída", cujo objetivo era protestar contra os baixos soldos militares por meio da explosão de bombas de baixa potência em banheiros de quartéis. Depois da divulgação da reportagem, Bolsonaro negou a existência do plano, mas um croqui com o planejamento de um dos atentados, feito de próprio punho por ele foi periciado e comprovou sua autoria. O caso foi entregue ao Superior Tribunal Militar, que, contra todas as provas, considerou os testes grafotécnicos inconclusivos e o absolveu. No ano seguinte, Bolsonaro se elegeu vereador pelo Rio. Dois anos depois, tornou-se deputado federal pela primeira vez.

Ao longo de seus 26 anos na Câmara, relatou basicamente matérias sobre porte de arma e direitos de militares. Passou esse período almoçando em restaurantes por quilo, faltando pouco ao trabalho - compareceu a 89 das 94 sessões em plenário em 2016, com duas ausências justificadas - e guardando distância dos colegas de partido. Um vídeo em que o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, relator do mensalão, menciona seu nome como o único deputado do PP a não votar com o governo num projeto que sabidamente envolveu compra de votos é brandido por bolsonaristas como "atestado de idoneidade" de seu líder. O parlamentar saiu do PP em 2015.

Jair Bolsonaro cresceu no vácuo deixado por políticos tradicionais tragados pela Lava-Jato ou simplesmente vitimados pela desmoralização crescente e aparentemente sem fim da categoria. É nesse deserto político que até um aventureiro como ele consegue se destacar. Na semana passada, seu nome apareceu em uma pesquisa de intenção de voto para presidente da República à frente do senador tucano Aécio Neves. Bolsonaro nunca saiu do lugar onde sempre esteve e segue dizendo as mesmíssimas coisas que dizia quando quase ninguém prestava atenção nele. Não mudou, portanto. Mudaram os brasileiros? Diz ele: "Sinto que as pessoas estão precisando acreditar em alguém". Sua ascensão mostra como as opções estão ficando precárias.


OS ABSURDOS QUE BOLSONARO FALOU


Algumas charges de Jair Bolsonaro feita por seus desafetos





Fotos e charges: Internet 
Fonte: Veja


Postar um comentário

Blog do Paixão

Whatsapp Button works on Mobile Device only

Start typing and press Enter to search